Por Xênia Honório 1408 A
Era uma vez, num canto ensolarado, seco e cinzento de Águas Claras, mais especificamente no
Residencial Montana, Dona Helena, uma senhora de 61 anos cheia de vida e energia… Ela acordava
todos os dias com um sorriso no rosto, pronta para ir à academia com as amigas, e depois enfrentar
mais um dia com suas diversas atividades. Porém, ultimamente, o clima quente, seco e poluído da
cidade parecia estar tirando o brilho da sua rotina.
“O que será que tá acontecendo comigo? Esse calor parece estar grudando até nos meus
pensamentos!”, resmungava ela, enquanto tentava abanar-se com uma revista.
Seu neto, Caio, que sempre foi o “gênio tecnológico” da família, observava a cena com uma
sobrancelha arqueada. “Vovó, será que você está se hidratando direito?”
Helena parou, como se tivesse ouvido um segredo cósmico. “Água? Ah, menino… Eu tomo café,
suco… Essas coisas. Água mesmo, só de vez em quando.”
Caio balançou a cabeça. “Vovó, no calor de Brasília, com esse ar seco e as queimadas, o negócio é
sério! Não é só beber água de vez em quando, não. É todo dia, o dia inteiro! Seu corpo precisa disso
pra aguentar o tranco.”
Dona Helena, sempre teimosa, olhou de canto de olho, mas lá no fundo, sabia que o neto tinha
razão. “E esse calor, meu Deus! Parece que tá derretendo até os pensamentos… Como é que eu
sobrevivo?”
“Respira, vó!” Caio respondeu rápido. “Mas não de qualquer jeito. Respira fundo, pelo nariz, bem
devagar… Segura um pouquinho e solta pela boca. Faz isso umas três vezes que você vai ver a
diferença. O ar aqui em Brasília tá seco por causa das altas temperaturas e principalmente das
queimadas. Tem que aprender a respirar direitinho.”
Helena olhou para o neto, curiosa. “É só respirar? Ah, meu filho, eu respiro desde que nasci, por
favor!” E começou a rir da própria piada. Mas, mesmo entre uma risada e outra, tentou seguir as
dicas de Caio. Inspirou pelo nariz, segurou, soltou pela boca.
“E a água, vó ? Sem ela, nada disso adianta”, lembrou o neto.
Ela pegou a garrafinha de água que estava abandonada na mesa e começou a beber. “Até que desce
bem, né? Acho que me esqueci do gosto disso.”
Caio deu um sorriso vitorioso. “Agora só falta o chapéu quando for sair de casa, viu? Esse sol não
perdoa!”
Naquele fim de tarde, Dona Helena estava mais leve. Entre goles de água e respirações conscientes,
percebeu que a vida era mais do que apenas suportar o calor de Brasília. Era cuidar de si, do corpo,
da mente e, claro, ouvir os conselhos de um neto insistente.
Ela olhou para o céu, ainda cinza, com nuvens das queimadas ao longe, e riu de si mesma. “Quem
diria que, depois de 61 anos, ainda tenho tanto pra aprender! Água, respiração e um chapéu…
Parece até coisa de aventura.”
E, de certa forma, era mesmo.